Atualizado em setembro 17th, 2024
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se pronunciou pela primeira vez nesta terça-feira (30/7) sobre o impasse nas eleições presidenciais da Venezuela, realizadas no último domingo.
O resultado oficial, apresentado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), aponta Nicolás Maduro como vencedor, com 51,2% dos votos. No entanto, a oposição e algumas autoridades estrangeiras acusam fraude e afirmam que o verdadeiro vencedor foi o oposicionista Edmundo González.
“É normal que tenha uma briga. Como resolve essa briga? Apresenta a ata”, disse Lula em entrevista exclusiva à TV Centro América, afiliada da TV Globo em Mato Grosso. “Se a ata tiver dúvida entre a oposição e a situação, a oposição entra com um recurso e vai esperar na Justiça o processo. E vai ter uma decisão, que a gente tem que acatar. Eu estou convencido que é um processo normal, tranquilo”, afirmou o presidente, segundo o portal G1.
Veja também:
Controvérsia e desafios na Venezuela
A oposição venezuelana alega que o Poder Judiciário é dominado por Maduro e questiona a normalidade do processo político no país. Ao longo dos anos, o chavismo foi acusado de controlar instituições-chave como a Suprema Corte e o Conselho Eleitoral.
Nas eleições venezuelanas, as atas são boletins que registram os votos em cada urna, mas ainda não foram apresentadas pelas autoridades do país. O governo da Venezuela alega que houve um ataque de hackers ao sistema, o que impediu a divulgação dos dados.
Lula indicou que só reconhecerá o resultado eleitoral após a apresentação das atas. “Na hora que tiver apresentado as atas, e for consagrado que a ata é verdadeira, todos nós temos a obrigação de reconhecer o resultado eleitoral da Venezuela”, disse o presidente.
Posição do Itamaraty
A declaração de Lula está alinhada com a nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores na segunda-feira. No documento, o Itamaraty saudou “o caráter pacífico da jornada eleitoral na Venezuela”, disse acompanhar “com atenção o processo de apuração”, mas ressaltou a importância da transparência na divulgação dos dados.
O documento afirma que o governo brasileiro aguarda “a publicação pelo Conselho Nacional Eleitoral de dados desagregados por mesa de votação, passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito”.
Nota do PT
Diferente da cautela adotada pelo Itamaraty, a Executiva Nacional do PT publicou na noite da segunda-feira uma nota reconhecendo a vitória de Maduro, tratando-o como “presidente agora reeleito”. Essa posição teria causado desconforto no Planalto, conforme informações de bastidores publicadas pela imprensa nesta terça-feira.
Na entrevista à afiliada da Globo, Lula buscou minimizar as críticas dirigidas ao partido pela publicação da nota da Executiva Nacional. “O PT reconheceu, a nota do Partido dos Trabalhadores reconhece, elogia o povo venezuelano pelas eleições pacíficas que houve. E ao mesmo tempo ele reconhece que o colégio eleitoral, o tribunal eleitoral já reconheceu o Maduro como vitorioso, mas a oposição ainda não”, explicou Lula.
Lula conversa com Joe Biden
Nesta terça-feira, Lula também conversou por telefone com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sobre o impasse eleitoral na Venezuela. A conversa foi solicitada pelo governo americano.
Em nota, o Palácio do Planalto informou que, durante a conversa, Lula “reiterou que é fundamental a publicação das atas eleitorais do pleito ocorrido no último domingo”. A nota também afirma que “Biden concordou com a importância das divulgações das atas”.
Ainda segundo o texto, Lula “reiterou a posição do Brasil de seguir trabalhando pela normalização do processo político no país vizinho, que terá efeitos positivos para toda a região”.
A conversa, que durou cerca de meia hora, também abordou temas bilaterais e multilaterais, segundo o Palácio do Planalto. Durante o telefonema, Lula cumprimentou Biden pela decisão de não se candidatar à reeleição, diz a nota.
O Brasil também está considerando emitir uma declaração conjunta com a Colômbia e o México sobre o processo eleitoral na Venezuela. Os países já se manifestaram individualmente pedindo transparência no resultado.
Contudo, um posicionamento em conjunto de três países com governos de esquerda poderia aumentar a pressão sobre o regime de Nicolás Maduro.