Presidente do PT classifica como “gravíssimas” as denúncias de fraude no Relatório Focus, feitas por gestor do mercado financeiro
Gleisi Hoffmann, presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) e deputada federal, fez um apelo público em suas redes sociais para que as recentes denúncias de fraude no Relatório Focus, do Banco Central (BC), sejam rigorosamente investigadas. As denúncias foram feitas por Pedro Cerize, fundador da gestora de fundos Skopos Investimentos, durante o evento Convex Day 2024, em São Paulo. Cerize afirmou que o mercado financeiro manipula as expectativas coletadas pelo relatório, influenciando as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) em relação à taxa de juros.
“Gravíssima a nova denúncia de que o relatório Focus, do BC, é manipulado pelos agentes do mercado financeiro. Foi o próprio gestor de um desses fundos, Pedro Cerize, da Skopos, que apontou a fraude. É o mercado que manda no BC ‘autônomo’. É crime e tem que ser investigado”, declarou Gleisi em sua publicação.
Veja também:
O Relatório Focus é divulgado semanalmente pelo BC, coletando as expectativas de mais de 100 instituições financeiras sobre indicadores econômicos, como a inflação, a taxa Selic e o câmbio. Essas previsões são utilizadas como uma das principais referências para a formulação da política monetária do Brasil.
Declarações de Pedro Cerize
Durante sua participação no evento Convex Day, Cerize afirmou que o mercado financeiro organiza grupos para “ajustar” as projeções divulgadas pelo Focus, com o objetivo de influenciar diretamente as decisões do Banco Central. “O mercado financeiro forma grupos que se organizam para ajustar o Relatório Focus e influenciar as decisões do Banco Central. É tudo combinado”, revelou o gestor. Ele ainda acrescentou que, mesmo ao expor essa situação publicamente, ninguém tenta refutá-lo, pois ele conhece os grupos e suas articulações.
Pedro Cerize também criticou o atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, por desmanchar três “guidances” consecutivos, uma sinalização prévia de medidas que o BC deveria tomar em relação à política monetária. “O Federal Reserve (Fed) jamais faria isso”, disse Cerize, referindo-se ao banco central dos Estados Unidos. Ele também sugeriu que os diretores do BC recebem remuneração insuficiente, levando-os a tratar seus cargos como etapas temporárias de suas carreiras, com interesses futuros no mercado financeiro.
Reações e implicações
As declarações de Cerize ganharam ampla repercussão e reforçaram críticas ao BC, que é frequentemente acusado de atuar em favor dos interesses do mercado financeiro, em detrimento da economia real. O subprocurador-geral do Ministério Público, Lucas Furtado, já havia apresentado uma representação no Tribunal de Contas da União (TCU) pedindo que o órgão apure possíveis manipulações no Relatório Focus, assim como o desvio de finalidade do Copom na definição da taxa Selic.
Furtado argumentou que há indícios consistentes de que grandes instituições financeiras têm influenciado os dados macroeconômicos do Focus para beneficiar suas operações. Ele também alertou para o impacto disso na elevação da taxa de juros, que segundo ele, não está controlando a inflação, mas sim enriquecendo especuladores financeiros, enquanto prejudica a economia nacional.
O TCU, por sua vez, já monitora a atuação dos membros do Copom após o término de seus mandatos, com o objetivo de evitar que utilizem seus cargos no BC para benefícios pessoais futuros no mercado financeiro. A investigação sobre a possível manipulação do Relatório Focus promete ser um tema central nos debates sobre a política monetária do Brasil nos próximos meses.