Atualizado em setembro 18th, 2024
O Brasil vive um momento econômico de contrastes. Entre 2022 e 2023, o país experimentou uma melhora significativa em indicadores sociais, como a queda da pobreza extrema e do desemprego, além do aumento no rendimento dos trabalhadores. Entretanto, essa evolução positiva não foi suficiente para reduzir a desigualdade de renda. Pelo contrário, o abismo entre os mais ricos e os mais pobres se aprofundou, revelando um cenário de extrema concentração de riqueza.
Essa realidade foi destacada no relatório divulgado pelo Observatório Brasileiro das Desigualdades nesta terça-feira (27). A entidade, parte da Ação Brasileira de Combate às Desigualdades (ABCD), foi criada no ano passado com o apoio de organizações sociais, associações de municípios, centrais sindicais, entidades de classe, além de instâncias governamentais e do Judiciário. O observatório realiza o monitoramento anual de 42 indicadores que ajudam a medir as desigualdades sociais e econômicas no Brasil.
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Melhora nos indicadores sociais
O relatório de 2023 marcou a primeira vez em que o observatório compilou dados de 42 indicadores para medir a desigualdade no país. Desses, 44% apresentaram melhorias, refletindo um cenário de recuperação econômica. Dos indicadores monitorados, 19 tiveram melhora, 21% pioraram e 14% mantiveram desempenho neutro. Contudo, 9 indicadores não puderam ser atualizados por falta de dados disponíveis.
Entre os avanços mais significativos, destaca-se a redução de 40% na extrema pobreza entre 2022 e 2023, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa queda foi ainda mais expressiva entre as mulheres negras, atingindo 45,2%. No mesmo período, o desemprego caiu cerca de 20%, e o rendimento dos trabalhadores aumentou em 8,3%, com mulheres registrando um ganho maior (9,6%) em comparação aos homens (7,7%).
Crescimento da desigualdade de renda
Apesar desses avanços, a desigualdade de renda aumentou. Em 2022, o 1% mais rico da população tinha um rendimento 30,2 vezes maior do que os 50% mais pobres. Em 2023, essa diferença aumentou para 31,2 vezes. Segundo o sociólogo Clemente Ganz Lúcio, coordenador do Fórum das Centrais Sindicais e colaborador do observatório, essa disparidade reflete um problema estrutural difícil de enfrentar. “É uma desigualdade muito grande”, afirmou Ganz Lúcio, destacando que, embora haja políticas públicas em andamento para reduzir essa desigualdade, os desafios permanecem significativos.
Educação, saúde e meio ambiente
O relatório também apontou avanços em áreas como educação e saúde. Houve um aumento de 12,3% na proporção de mulheres negras de 18 a 24 anos no ensino superior e uma redução de 14% no número de mães adolescentes (até 19 anos) que deram à luz a filhos vivos, de acordo com o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc).
Na área ambiental, houve uma queda de 13,1% no desmatamento em áreas indígenas e de conservação, com uma redução ainda maior no Norte do país, onde o desmatamento caiu 46,4%, segundo o Instituto de Referência Negra Peregum.
Desafios persistentes
Apesar dos avanços, o relatório também destacou áreas que apresentaram pioras. A desnutrição infantil entre crianças indígenas aumentou entre 2022 e 2023, alertando para uma crise emergente. Segundo o observatório, essa piora pode ser atribuída tanto a questões geográficas quanto ao racismo estrutural, que dificulta o acesso dessas populações a serviços essenciais.
Outro ponto de preocupação é o aumento de 5% na mortalidade infantil entre 2021 e 2022 e o crescimento de 22% nas mortes por causas evitáveis no mesmo período. Além disso, o déficit habitacional no Brasil chegou a 6,4 milhões de residências em 2022, e as emissões de carbono, que contribuem para o efeito estufa, cresceram 30% entre 2019 e 2022.
“Sobre o déficit habitacional, são dados até 2022 que mostram que houve um aumento. Provavelmente, quando nós tivermos a atualização desses indicadores, nós observaremos que a política de retomada do Minha Casa Minha Vida terá um impacto de redução”, ponderou Clemente Ganz Lúcio.